Dr. Jorge Boucinhas - Médico e professor da UFRN
Terminou-se o Artigo anterior afirmando que nunca é tarde para aprender a governar as emoções e melhorar as relações intra e interpessoais, tendo sido citadas técnicas-chave ultimamente divulgadas por cientistas, quais EMDR (Dessensibilização e Reprocessamento pelo Movimento Ocular), EFT (Técnica de Liberação de Energia), HC (Coerência Cardíaca), como capazes de alcançar tal objetivo. Acrescente-se agora ter sido dito que, após milhões de anos de evolução, o equilíbrio entre os dois cérebros, no ser humano moderno, parece depender essencialmente de quatro elementos: um senso de conexão com o próprio corpo, com percepção dos estados emocionais íntimos; de se exercer um papel de valor na comunidade em que se está inserido; da intimidade maior com um grupo seleto e escolhido de outros seres humanos; de um sentido de conexão com algo mais transcendental, além da própria vida pessoal. Curioso é que estes quatro elementos, que mais parecem egressos de um sermão religioso ou de um livro de orientação psicológica, são fruto da mais atual pesquisa nos campos da Psicologia, da Biologia e de moderníssimos aportes da Neurociência. Há que o ser humano “funcione” nas distintas dimensões do auto-conhecimento corporal, da atuação social, da intimidade amorosa (em sentido amplo) e da ligação com “algo mais” para que sinta-se realmente integrado, em estado de bem-estar (que alguns diriam ser o estado de “felicidade”).
Das técnicas citadas, a EMDR e a EFT, embora possam posteriormente ser usadas pelo próprio interessado, exigem, inicialmente, ou o auxílio de um colaborador/facilitador ou uma aprendizagem bem orientada, pelo que apenas se as cita. Já a HC é um instrumento poderoso de auto-ajuda (sem o sentido pejorativo que, por vezes, alguns dão à expressão) e pode ser posta em prática após dela se ter conhecimento, pelo que se a explica aqui.
Poder-se-ia dizer que se trata de procedimento de indução de harmonização pessoal sem recorrer às técnicas clássicas de relaxamento, quiçá sendo um verdadeira “meditação do corpo”, muito eficaz. Trata-se, então, do que?
Suas bases derivaram das descobertas sobre a relação estreita entre estresse e risco cardiovascular. Sabe-se bem, hoje, que o stress é fator de risco de infarto do miocárdio quiçá maior que o próprio e famigerado tabagismo. Ademais, verificou-se que, em casos de enfermidades crônicas letais, a presença de depressão reativa, por insatisfação pessoal, pode ser um indicador mais acurado de risco de morte que a maioria dos exames clínicos. Há, assim, uma já bem conhecida relação entre desgaste emocional e doença cardíaca, portanto entre Cérebro Emocional e coração. O que é menos conhecido é a relação entre coração e sistema nervoso, no sentido que o correto funcionamento do primeiro acaba por influenciar positivamente o segundo. Só recentemente descobriu-se que coração e sistema digestivo têm sua própria rede neuronal, funcionando, se der para se dizer assim, como “mini-cérebros” relativamente autônomos. Afora isto o coração é, também, um discreto liberador hormonal, tendo seu pequeno estoque de adrenalina, que libera ao precisar funcionar “a todo vapor”. Também produz e libera um outro fator hormonal, dito FNA (Fator Natriurético Atrial), que ajuda no controle da pressão sanguínea, afora conservar um estoque de ocitocina (por alguns dita “Peptídio do Amor”). É de lembrar que todos eles têm ação sobre o cérebro e influenciam a fisiologia de todo o corpo.
A relação entre Cérebro Emocional e “Pequeno Cérebro Cardíaco” pode tornar-se numa das chaves para o indivíduo alcançar seu auto-domínio emocional. Se, antes, pensava-se tal ser possível apenas através do controle da respiração (e os Yogues usaram e abusaram desta já bem conhecida interação, controlando o ritmo respiratório para buscar o relaxamento) hoje já se o pode fazer através do órgão chave do Sistema Circulatório. Descobriu-se que ele faz mais que apenas responder à influência do Sistema Nervoso Central: através das fibras que dele vão de volta à base do crânio podem seguir impulsos que modulam a atividade cerebral. Assim, afora liberar hormônios reguladores da pressão sanguínea e uma recém-descoberta atividade magnética (sobre a qual ainda se pouco pode falar, de vez que pouco estudada, mas que parece influenciar todo o corpo), o coração tem conexão direta com as bases cerebrais. Pode-se testemunhar a ação recíproca entre Cérebro Emocional e coração através da constante variação do ritmo de batimentos cardíacos, que oscila segundo o humor do indivíduo. A variabilidade é perfeitamente saudável, já os excessos (taquicardias) e um funcionamento excessivamente estável, tal qual uma batida de metrônomo, não o são.
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